As vibrações eternizadas no círculo, numa roda feita de
gente-ciranda,
É verossímil que quem ali dançara eram suas crianças; e
afastadas da terra,
Faziam redemoinhos nos recônditos profundos do corpo.
Possuí-me de intuições das mulheres insanas
A comoção dos panos de Maria Madalena na esfera líquida duma
multidão agitada em círculos
Cerrar as pálpebras pra sentir amor com os pés, porque o
chão era um oceano e dançávamos para não submergir e atingir criaturas
abissais.
O não-lugar tem por idiossincrasia; fantasmas, convulsões,
êxtase.
Os sinais se costuram e estando ainda mais hesitante vi que
os retalhos costurados, eram filhos reles do lençol supremo, a atmosfera.
A música despertou-me. Não sei se quem dançava era eu ou era
o outro que segurava minhas mãos e não me deixava afogar naquele oceano imenso
de terra. Estas mãos me guiam.
As mulheres negras daquele terreiro, quantas cicatrizes da
história delas me habitavam?
Me vi toda reminiscente dos olhos e dos cant(ares) do
não-lugar mais preciso e extraordinário. Improprio para brancos contaminados de
hostilidades e inerente-singular aos que rasgam seu peito e vestem-se estando
nus. Quando dançar no oceano de terra, fique nu. É necessário estar puro e
arremessar as vilezas que a fatídica existência cotidiana impõe.
No princípio era a música. Anéis, se formaram e explodiram.
A ciranda era o anel, a roda, a barriga da mãe um círculo. Os seres explodem
como explodiu o universo.
Big bang!
E posteriormente?
As pedras me ouviam.
Como seria ter brilhado como um índio?
Existido índio? Se o tivessem permitido viver?
A ciência do concreto dilata meus sentidos e sei sentir a
terra consumar meus pés nas cores vivas dum acasalamento. Sentir! Eu sei que as
árvores gritavam e que a água, a água, é nossa!
Nós, feitos para combinar com a natureza. Vivendo a morte a
todo instante dos que não percebem os pássaros. Falidos de sensibilidade!
Joguem-se ao precipício e atentem-se a voar!
Porque tem medo de voar, a humanidade ambiciona cortar asas.
Voltemos ao primitivo, sequer praticamos sair das cavernas.
Circular a fogueira para que faíscas nos dê espírito.
Significar os símbolos, (re)significar a existência. Vibremos!
Explodir é apoiar a cabeça do irmão no peito e chover com ele. É deitar sob as
pedras, nu. Fitar constelações e identificar Órion. É o laço de um beijo
inusitado na testa. Dar as mãos na nebulosidade dos porões. É não ter luz,
sangrar e expelir palavra-poema-sons nos labirintos do ouvido. Explodir!